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Os Arcanos do ano, os trânsitos astrológicos e o Novo Aeon

Foto do escritor: Vesta N.O.X.Vesta N.O.X.


Castelos demoram para desmoronar. Décadas. Séculos. Muitas vezes, parecem de fato que serão eternos. Olhamos para as pirâmides, a única maravilha do mundo antigo ainda de pé, e nos iludimos com uma suposta perenidade do que é humano. Mas isto não existe.

Já disse sabiamente o poeta:

"Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:

Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,

Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,

Afundando na areia, um rosto já quebrado,

De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:

Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia

Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,

À mão que as imitava e ao peito que as nutria

No pedestal estas palavras notareis:

“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis:

Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”

Nada subsiste ali. Em torno à derrocada

Da ruína colossal, a areia ilimitada

Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada."


Ozymandias - Percy Shelley (trad. de Péricles Eugênio da Silva Ramos)


Nada dura para sempre. Estamos finalizando os ciclos do elemento Terra e iniciando o grande ciclo do Ar, com Plutão deixando capricórnio para entrar em aquário (rapidamente este ano e definitivamente ano que vem para permanecer 20 anos), Urano deixando touro para entrar em gêmeos (em 2026) e os encontros de Saturno e Júpiter em signos de ar por 200 anos, tendo sido o primeiro em aquário, em 2020. O ciclo de Terra criou em nós esta noção ilusória de permanência, de solidez eterna, de matéria. Acontece que a própria matéria é, em si mesma, dinâmica! Ela nasce, morre e se transforma para renascer.


Diante de um Ocidente pautado no capitalismo pós revolução industrial e no neoliberalismo, em que a riqueza era pautada no ouro e no petróleo e viver bem significava ter coisas, a humanidade parece entrar em colapso quando descobre que, por mais sólida que parecesse, a ordem mundial não era fixa - e está ruindo.


O ano do Carro (2023 = 7) e do Eremita (ano thelêmico V:ix) aparecem como sintetizadores desses novos tempos e como arautos conselheiros: a mensagem é clara! Abandone o que não faz mais sentido.


De nada adianta tentar caminhar rumo à Verdadeira Vontade carregando consigo todos os imensos pesos da vida desconectada. Relações, carreiras, hobbies, hábitos; coisas que atrasam sua vida, impedem a locomoção, dificultam a tomada de decisões. O general triunfante na carta só foi vitorioso por ser ágil, veloz e focado. Por isso só tem espaço para um e para pouquíssima bagagem (interna e externa, simbólica e literal).




O Eremita, por sua vez, é aquele que entende a necessidade de silenciar a sua própria mente em prol de atingir a sua Verdadeira Luz interior. Um contexto de caos, brigas, muitas posses, poderes e vaidades apenas nos afasta de nossa Verdadeira Vontade. É chegado o momento no qual precisamos abandonar essas armadilhas confortáveis do ego e seguirmos em frente. Com vestes simples, meditando em solitude, superando nossas ilusões de poder e caminhando descalços rumo à este Sol, nossa essência mais pura e divina.




Júpiter e Saturno fazem um jogo bastante interessante com essas energias Arcanas do ano. Desde que se encontraram em aquário, em 2020, o mundo deixou de ser o que era. Tememos o invisível (um vírus) que nos prendeu em nossas casas (Saturno) e nos obrigou a encarar as nossas crises de fé (Júpiter). A partir disso, vivemos lições ricas de percepção da realidade, sobretudo em relação às figuras públicas de poder político (Júpiter) e agora de poder espiritual (Saturno em peixes).

Os planetas sociais se encarregaram de trazer à tona uma série de hipocrisias e todo o lamaçal envolvidos com uma série de políticos e sacerdotes. É tempo de findar as antigas instituições religiosas pautadas no patriarcado, no fascismo e na colonização. Deve ser o fim das religiões do Velho Aeon e de seus líderes tirânicos. Deve ser o fim dos políticos messiânicos. Deve ser o fim dessa mania de idolatrar seres humanos ao invés de buscar a horizontalidade entre nós e a Luz de cada um.


Plutão, por sua vez, trouxe as novas tecnologias, como o infame chat GPT que nos obriga a finalmente compreendermos o que é verdadeiramente humano. As tecnologias de Inteligência Artificial nos obrigam a lidar com uma definição bem rasa e neoliberal de "inteligência". As máquinas não são melhores do que nós. Elas apenas nos mostram o quanto fomos automatizados e desumanizados pelo capitalismo. Elas são uma oportunidade de recuperarmos nossa humanidade: a nossa capacidade filosófica, poética, artística e empática e sairmos desse looping imundo e chulo da cultura rasa e de uma vida pautada em produtividade.


Não é tempo de esmorecer. “Assim como é em cima, é embaixo”. Os sinais estão aí, os símbolos não deixam dúvidas! É um momento de aceleração da transição do Aeon velho para o novo. Não é hora de temer, silenciar, se desesperar ou se acovardar. Pelo contrário, é missão do thelemita (e de todo aquele que deseja um mundo melhor, uma realidade diferente) arregaçar as mangas e seguir em frente, leve e focado, na construção dessa realidade novo-aeônica. Que ela seja pautada em valores melhores, colaborativos, de equidade, coragem e sem apego ao consumismo torpe nem à tolice subalterna.



 

16. Não penseis tão avidamente em conquistar as promessas; não temais submeter-vos às maldições. Vós, nem mesmo vós, conheceis o significado de tudo isto.

17. Não temais em absoluto; não temais homens nem Destinos, nem deuses, nem nada. O dinheiro não temais, nem o escárnio da insensatez do povo, nem qualquer outro poder no céu ou sobre a terra ou debaixo dela. Nu é o vosso refúgio assim como Hadit é a vossa luz; e Eu sou a força, poder, vigor, dos vossos braços.

(...)

46. Eu sou o Senhor Guerreiro dos Quarenta: os Oitentas se acovardam perante mim, & são rebaixados. Eu vos conduzirei à vitória & alegria: Eu estarei nos vossos braços na batalha & vós tereis deleite na chacina. Sucesso é a vossa prova; coragem é a vossa armadura; segui, segui na minha força; & não recuareis diante de nada!

(...)

57. Desprezai também todos os covardes; mercenários que não ousam lutar, mas brincam; desprezai todos os loucos!

58. Mas o perspicaz e o orgulhoso, o aristocrata e o altivo; vós sois irmãos!

59. Como irmãos lutai!


Liber Al Vel Legis - Capítulo III

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